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Publicado em O Estado de S. Paulo, 14/04/1998

O emprego na infra-estrutura

Os investimentos em infra-estrutura têm um colossal impacto na geração de empregos. A construção de uma usina elétrica, refinaria de petróleo, rede de telecomunicações, saneamento, rodovias, ferrovias e outras obras cria postos de trabalho diretos, indiretos e remotos.

Os diretos se referem à construção das obras em si. Os indiretos se ligam à produção dos componentes (empregos "para trás") e à administração, comércio e serviços demandados pelas obras (empregos "para frente").

Os remotos vão mais longe. Para trás, eles chegam até à produção das matérias primas. Para frente, eles surgem da liberação dos benefícios da obra pronta. Uma estrada, por exemplo, desenvolve comunidades, facilita cargas, reduz o tempo de transporte, etc.- e gera trabalho.

As estimativas do Banco Mundial indicam que para cada 1% de crescimento na infra-estrutura, corresponde, em média, um crescimento de 1% do PIB. Por sua vez, para cada 1% do PIB, corresponde, em média, 0,5% do emprego.

No Brasil, as pesquisas mostram que R$ 1 milhão investido em infra-estrutura, gera, em média, 163 postos de trabalho! - 30 diretos, 19 indiretos e 114 remotos – também chamados de empregos decorrentes do efeito-renda. Trata-se de um resultado muito expressivo e de enorme utilidade num país que tem tanto a fazer nesse setor.

Os nossos déficits em infra-estrutura são enormes. Apenas 40% dos domicílios brasileiros são servidos por rede de esgoto; 23% usam fossa séptica; e 37% não usam nenhum dos dois sistemas. No campo da habitação, faltam 12 milhões de "moradias adequadas" e o hiato não pára de aumentar. Atente para um indicador mais vivo: nos últimos 5 anos, a população do Rio de Janeiro cresceu apenas 1,3%, enquanto que os moradores das favelas aumentaram em 69,4%.

As obras para atender essa demanda reprimida são de maturação rápida, exigem poucas importações e utilizam mão-de-obra disponível – gerando trabalho de imediato.

No campo da energia elétrica, o atraso também é grande. Os blecautes viraram parte do nosso cotidiano. Para superar a defasagem atual será necessário adicionar 3.650 MW anualmente até o ano 2007. Isso significa construir uma Usina de Tucuruí a cada 12 meses! - o que, certamente, geraria muitos empregos diretos, indiretos e remotos.

A despeito de nosso transporte ser basicamente rodoviário, nas comparações internacionais, somos anões. No Brasil, as estradas pavimentadas não chegam a 150 mil quilômetros enquanto que na Austrália, são 250 mil; no Canadá, 290 mil; e nos Estados Unidos, 5 milhões. O minúsculo Japão tem 790 mil quilômetros; a França, 750 mil; a Alemanha, 500 mil; e a Itália, 300 mil.

Apesar dos avanços tecnológicos, a construção e, principalmente, a operação e manutenção de estradas usam muita mão-de-obra. Por exemplo, para se construir 100 quilômetros de rodovia (pista dupla) são necessários 1.000 trabalhadores durante 2 anos, e para operar e manter esses 100 quilômetros, são indispensáveis 250 pessoas trabalhando de forma permanente nas atividades de pedágio, policiamento, socorro médico, assistência mecânica, consertos, reparações, capina, etc., sem falar nos empregos indiretos e remotos que surgem depois de concluída a obra.

Além de boas rodovias, precisamos de boas ferrovias. Os Estados Unidos têm mais de 200 mil quilômetros delas; o Canadá, 100 mil; a Inglaterra, 40 mil; o Japão, 23 mil. O Brasil tem apenas 22 mil quilômetros de ferrovias mal conservadas. A Índia possui o dobro disso.

Ou seja, o Brasil é um país a ser construído. Bem diferente é a situação da Bélgica, Áustria ou Suíça onde há pouco a fazer na sua infra-estrutura. Temos, portanto, um enorme potencial de empregos no momento em que destravarmos a economia e voltarmos a crescer de forma sustentada.

Alguma coisa já está ocorrendo nesse campo. No período de 1997-99, os investimentos em infra-estrutura chegarão a R$ 60 bilhões e para 2000-2003, há projetos prontos para ser executados no montante de R$ 154 bilhões.

A novidade nesse setor é a participação crescente dos capitais privados. Como prova de seu interêsse, eles vêm pagando altos ágios para comprar ou obter concessões de usinas elétricas, ferrovias, rodovias, telecomunicações, etc. Em alguns campos, os resultados são rápidos. Por exemplo, até 1995, o governo federal gastava anualmente R$ 14,00 por quilometro para manutenção de rodovias. A partir de 1996, as concessionárias privadas passaram a gastar R$ 140,00, o que as fez quadruplicar o quadro de pessoal.

No campo das telecomunicações, a entrada de capitais privados fará o Brasil adicionar 30 milhões de telefones entre 1998-2003. O grande potencial empregador desse setor está no campo dos empregos indiretos e remotos. O "comércio eletrônico", por exemplo, cresceu 30% em 1997, tendo gerado US$ 30 bilhões e centenas de milhares de empregos. Os ganhos são consideráveis. Basta citar que, para vender um micro-computador através da Internet gasta-se apenas US$ 0.50; via telefone, US$ 5.00; e numa loja, US$ 15.00. São diferenças extraordinárias e que estimulam novos negócios e geram muitos empregos. As primeiras pesquisas da OCDE dizem que o comércio eletrônico mais cria do que destrói trabalho.

Em suma, o Brasil tem todas as condições para desfrutar das vantagens da expansão da sua infra-estrutura. Os efeitos multiplicadores desses investimentos são enormes e muito pode ser conseguido no campo do emprego. O leitor já imaginou o que acontecerá neste grande canteiro de obras que é o Brasil quando tivermos taxas de juros civilizadas? Não há dúvida: o futuro será melhor do que o presente.