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Publicado em O Estado de S. Paulo, 08/08/2006.

O desemprego dos jovens

O alta taxa de desocupação dos jovens brasileiros é um problema grave. Isso desilude a juventude e desespera as famílias.

Enquanto o desemprego geral fica em torno de 10,5%, que muito alto, o dos jovens de 18 a 24 anos chega a 22%. Cerca de quatro milhões de jovens estão desocupados, ou seja, 45% do desemprego total. Dentre eles, há os que buscam o primeiro emprego e os que, tendo sido empregados, procuram voltar ao mercado de trabalho, que são a maioria.

Já foi um tempo em que o desemprego atingia apenas os menos educados. Hoje é diferente. A maior parte dos jovens que possuem curso médio completo só consegue emprego quando aceita trabalhos de nível mais baixo. O mesmo ocorre com os diplomados no ensino superior. Isso leva muitos jovens a questionar: para que serve a educação se ela não facilita o emprego?

O desajuste entre educação e emprego decorre do fato do Brasil ter avançado um pouco mais na área do ensino do que na área do emprego. Em 1995, o Brasil formou cerca de um milhão de pessoas nos cursos de nível médio. Em 2004, formou dois milhões. Ainda que irrisório para o tamanho do Brasil, o numero dobrou. Mas, as vagas não dobraram.

Na verdade, os empregadores públicos e privados passaram a tirar proveito desse desequilíbrio. As exigências no recrutamento aumentaram de forma expressiva e até exagerada. Há prefeituras, por exemplo, que exigem curso médio completo para a inscrição em concurso para "serviços gerais" que incluem varredores de rua, pessoal de limpeza e trabalhadores braçais.

Mas que fique bem claro. Não é que sobra educação; o que falta é emprego. A solução está criar mais empregos, e não em reduzir a educação.

O desemprego dos jovens decorre também da dinâmica das empresas. Quando a economia "esfria", a primeira reação do empresário é parar de contratar. O "congelamento das demissões" atinge em cheio os jovens porque são os que têm menos experiência. Persistindo a recessão, a segunda medida é despedir os que têm pouco tempo de casa, os menos estratégicos e os de menor experiência – o que, novamente, recai sobre os jovens.

Quando a economia começa a "esquentar", a primeira reação dos empresários é buscar trabalhadores de mais experiência, o que alija os jovens. Se a retomada de atividades se mostra sustentável, aí sim tem início o recrutamento de jovens, buscando-se, dentre eles, os mais educados – mesmo que seja para executar tarefas que não exigem tanta educação.

Para compensar essa dinâmica perversa, muitos países estimulam as empresas a admitir jovens com base nos "contratos de formação". Esse expediente permite às empresas contratarem estudantes ou recém formados (níveis médio e superior), com menos despesas e menos burocracia, e por tempo determinado, que varia de um a dois anos. Para a empresa é bom porque é mais simples e menos oneroso. Para o jovem é bom porque passam a "comprar experiência" estando trabalhando.

Infelizmente, as leis brasileiras não dão essa chance para os jovens. A Constituição Federal e a CLT estabelecem os mesmos pisos e despesas para contratar trabalhadores em todas as idades, com pouca ou muita experiência. Isso é um complicador a mais.

Entre nós, inexistem os contratos de formação. É uma pena. Lembremos, que a grande maioria dos jovens começa a trabalhar em pequenas e microempresas. O maior medo dos empresários desses segmentos é o de não terem recursos para despedir um empregado contratado formalmente. A indenização de dispensa sem justa causa é de 50% do saldo do FGTS. Além disso, a empresa tem de recolher 8,5% ao mês, inclusive sobre o 13º. salário – que dá mais de um salário por ano. E, finalmente, tem de arcar com as despesas de aviso prévio que, na maior parte dos casos, é pago em dinheiro. Para pequenos e microempresários, tais despesas tão altas a ponto de justificarem o medo.

A falta de "contratos de formação" prejudica muito os jovens. Trata-se de um expediente que poderia ser aprovado pelo governo para estimular o emprego da juventude. Abrir oportunidades de trabalho é fundamental para manter o entusiasmo e o idealismo dos jovens. Afinal, eles são o nosso mais precioso capital precioso e formam o celeiro de lideres que vai dirigir a nação. É isso mesmo: os jovens são uma solução e não um problema. Desiludi-los no presente é comprometer o futuro. Isso precisa mudar.