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Publicado no Jornal Correio Brasiliense, 25/03/99

O Oscar, o cinema e os empregos

José Pastore

A aguerrida disputa pelo Oscar na noite de domingo eletrizou os brasileiros. Com Central do Brasil e Fernanda Montenegro nunca chegamos tão perto.

Desta vez, o Brasil recebeu uma grande quantidade de notícias sobre a economia da indústria cinematográfica. Eu mesmo me animei a ler alguns trabalhos para ver o impacto dessa indústria no campo do emprego.

1. Fiquei surpreso em saber que os donos de cinema ganham mais com as guloseimas que vendem na entrada, do que com os tickets que vendem na bilheteria.

2. Aprendi também que 50% da renda dos produtores provêem das vídeo-locadoras; 30%, das exibições em televisão; e 20% da apresentação em cinemas.

3. Nos Estados Unidos, produzem-se 250 novos filmes por ano, o que significa um investimento de aproximadamente US$ 15 bilhões.

4. Para se produzir um filme, gasta-se, em média, US$ 40 milhões na produção e - pasmem! - cerca de US$ 20 milhões na divulgação.

5. Apenas 30% dos filmes produzidos no mundo geram lucros compensadores. Os grandes sucessos são contados nos dedos, o que faz do cinema uma das atividades mais arriscadas no campo do entretenimento (Harold L. Vogel, Entertainment Industry Economics, 1998).

Cinema gera empregos? Nos Estados Unidos, as atividades de culturais e de entretenimento empregam 17 milhões de pessoas. Só de artistas de cinema e TV, há cerca de 120 mil pessoas trabalhando (30 mil em cinema).

No caso do cinema, em torno de cada artista trabalham cerca de 30 pessoas nas várias atividades de apoio na criação de equipamentos, roteiros, figurinos e vários outros serviços que são necessários na produção de um filme. A indústria cinematográfica nos Estados Unidos, portanto, mantém cerca de 900 mil empregos diretos.

Depois de pronto, um filme cria uma infinidade de postos de trabalho para ser divulgado e assistido, incluindo-se aqui as atividades de marketing, transporte, casas de exibição, restaurantes e outras. O cinema é um grande gerador de empregos indiretos.

Na área da cultura, por unidade de capital investido, o cinema é a segunda maior fonte de emprego. A primeira é a televisão.

No Brasil, as atividades culturais em geral empregam cerca de 500 mil pessoas (José Alvaro Moisés e Roberto Chacon de Albuquerque, A Economia da Cultura, 1998). Cerca de 3 mil pessoas estão ligadas às atividades do cinema.

A produção cinematográfica ficou, na prática, mais de 20 anos parada. Ela retomou o seu impulso em 1995 quando o País passou a gestar cerca de 60 projetos por ano.

O filme Central do Brasil gastou US$ 7 milhões, o que está acima da média dos filmes brasileiros. O talento do diretor e da protagonista, assim como os sucessos recentes de O Quatrilho, Carlota Joaquina e outros sugerem que essa pode ser uma importante fonte de empregos no Brasil.

Segundo dados do Ministério da Cultura, o efeito empregador dos investimentos em cultura são expressivos: para cada R$ 1 milhão investido, gera-se cerca de 160 postos de trabalho diretos e indiretos. Nos últimos tempos, os investimentos em cultura têm gerado anualmente cerca de 13 mil novos postos de trabalho, o que não é nada desprezível numa época em que a indústria está despedindo 150 mil trabalhadores por ano.

As pesquisas mostram que, entre 1991-96, houve uma expansão de 34% de postos de trabalho nas atividades de entretenimento (PNAD, 1996). Esse crescimento acompanhou a ampliação das redes de emissoras de rádio e TV, assim como de outras modalidades de entretenimento.

Os americanos gastam cerca US$ 150 bilhões por ano em atividades culturais - 2% do PIB. No Brasil, são US$ 7 bilhões - menos de 1% do PIB. Há muito campo a percorrer na área do entretenimento.

Por isso, além do glamour da arte e da projeção cultural que dá ao País, o cinema é uma indústria a ser levada a sério quanto a sua potencialidade de emprego. Poucos setores tem o efeito multiplicador do cinema. Vale a pena estimular o setor privado a investir nessa atividade.