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Publicado em O Jornal da Tarde, 22/02/1997

Memória e trabalho

Como vai a sua memória? Você é como eu que à toda hora "perde" a caneta no meio dos livros e papéis em cima da mesa? Isso está afetando o seu trabalho? Façamos um teste. Responda:

1. Com que frequência você esquece onde colocou as coisas durante seu trabalho?
(a) nenhuma vez nos últimos 6 meses
(b) uma ou duas vezes nos últimos 6 meses
(c) uma vez por mês
(d) diariamente
(e) mais de uma vez por dia

2. Com que frequência você precisa conferir se fez uma coisa importante como, por exemplo, passar a chave na porta?
(a) nenhuma vez nos últimos 6 meses
(b) uma ou duas vezes nos últimos 6 meses
(c) uma vez por mês
(d) diariamente
(e) mais de uma vez por dia

3. Com que frequência você se esquece de fatos ocorridos dias atrás e que tiveram de ser lembrados por outra pessoa?
(a) nenhuma vez nos últimos 6 meses
(b) uma ou duas vezes nos últimos 6 meses
(c) uma vez por mês
(d) diariamente
(e) mais de uma vez por dia

é difícil dizer o que seja uma memória normal. Mas, quem tem memória média, costuma responder 1 (c); 2 (b); e 3 (b) (Barry Gordon, Remembering and Forgetting in Everyday Life, 1996). Acima disso, é ótimo; abaixo, é problemático.

A repercussão dos esquecimentos na produtividade do trabalho é uma questão bastante complexa. O trabalho moderno força a aprendizagem contínua e entope as pessoas de informação. Nessas condições, os lapsos de memória são frequentes.

Se você se saiu mal no teste acima, não se alarme. é muito importante levar em conta os aspectos qualitativos do declínio da memória.

Esquecer onde colocamos a chave do carro é comum. Mas, guardar as chaves na geladeira, é preocupante. Trocar o nome de uma pessoa que não a vemos há muito tempo é embaraçoso; mas, chamar o chefe pelo nome errado, é perigoso. Esquecer o local em que estacionamos o carro é irritante; mas, não saber se, na noite anterior, chegamos em casa dirigindo ou conduzidos por um amigo, é angustiante.

O esquecimento é um problema que interfere no trabalho. Muitas vezes ele é resultado de sobrecarga, cansaço e stress. Não se pode menosprezar também o envelhecimento. A memória decresce na medida em que a idade cresce.

Apesar disso, muitas coisas podem ser feitas para preservar a memória nos dias atuais. Uma delas é policiar a entrada de informações. Outra, é disciplinar o seu uso. Afinal, nem tudo é importante para merecer ser memorizado.

Hoje em dia, a curiosidade e a memória esgrimam permanentemente. Navegar na Internet é uma tentação. Mas, para não ser vítima de uma intoxicação de informações, convém disciplinar a curiosidade.

Na última 6a. feira, encontrei uma amiga que me disse ter participado de 16 reuniões naquela semana. Perguntei a quantas ela iria novamente depois de saber o que houve em cada uma delas. Ela me disse, apenas uma pois, as demais foram perda de tempo e sobrecarga da memória.

Em suma, o trabalho moderno puxa muito pela memória. Para bem cuidar dela, estamos sendo desafiados a desenvolver uma nova habilidade: a de saber dosar a captação de informações. é essa habilidade que vai nos dar a condição de reter o que importante e descartar o secundário. Assim procedendo, não há o que temer. Mas, não se esqueça, hoje é quarta-feira e o descanso só começa no sábado...