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Publicado em O Jornal da Tarde,14/08/1996

O Nene da Xuxa

O Brasil inteiro ficou sabendo que a Xuxa deseja ter um filho - mesmo que seja fruto de "produção independente". Esse desejo já não é mais original pois várias pessoas sonham em ter uma criança sem compromisso com companheiro ou companheira.

Estamos no meio de grandes transformações no campo do relacionamento entre as pessoas. Nos anos 60, o mundo assistiu atônito a separação entre sexo e casamento. Agora, nos anos 90, estamos testemunhando a separação entre casamento e família.

Em meados dos anos 50, as pesquisas indicavam que apenas 16% dos adolescentes (15-19 anos) indicavam ter tido, pelo menos, uma relação sexual antes do casamento. Em meados dos anos 60, essa proporção passou para 51%.

O relacionamento sexual passou a ser baseado não em regras externas mas sim na sinceridade emocional. O amor era o único requisito para um angajamento sexual. A nova moral não tinha nada a ver com o casamento. O sexo podia ser moral ou imoral fora do casamento. O sexo deixava de ser uma expressão do pecado passando a ser uma expressão de amor. As relações amorosas passaram a ser sustentadas pela fidelidade.

O aumento do relacionamento sexual resultou numa forte elevação da gravidez. Mas, até o fim da década de 60, 55% das concepções extramatrimoniais foram legitimadas com o casamento. Ou seja, a separação era entre sexo e casamento mas ainda não se percebia a separação entre casamento e família. Uma vez grávidas, a grande maioria das meninas acabavam casando. O aborto atingia apenas 14% dos casos.

No início dos anos 80, houve uma outra grande mudança. As relações começaram a ser marcadas pela co-habitação. Nesse novo contexto, as crianças iam nascendo no ambiente dos parceiros não casados. Com criação dos filhos passou a independer do casamento. Foi um período marcado pelo declínio do casamento e aumento da co-habitação.

Hoje em dia, viver junto era um prelúdio para o casamento. Os dados mostram que 70% das mulheres que casam, cohabitaram com seu parceiro antes do casamento. Na década de 80, isso era de 58%; nos anos 70, 33% e nos anos 60 6%.

Nos anos 80, a cohabitação se restringia à vida à dois para a maioria das pessoas. Hoje, 58% das crianças são registradas por "casais que vivem no mesmo endereço". Por sua vez, as relações baseadas em mera cohabitação duram menos do que as que se baseiam no casamento.

A combinação de divorcio, cohabitação e crianças fora do casamento tem contribuido fortemente para a separação entre casamento e família. Entre 1970-90 a proporção de famílias chefiadas por mulheres apenas praticamente dobrou

(Jane Lewis and Kathleen Klernan, The Boundaries Between Marriage, Nonmarriage, and Parenthood, Journal of Family History, July 1996)